quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O Bilhetinho Azul.

Nascem às flores, tão belas, os pássaros cantam como nunca, a vida arde, ferve e a esperança reaparece. Na primavera tudo parece belo e hoje é meu aniversario.
Acordo pela manhã, olho pela janela, o sol ilumina meu ombro, sinto-me feliz, estranhamente feliz. Abro um sorriso.
Levanto-me e ando pelos corredores de minha casa a procura de minha mulher, com o objetivo de me desculpar pelo dia anterior, mas não a encontro em lugar algum. Reparo sobre a mesa um pequeno bilhete, um bilhetinho azul. Minhas pernas bambeiam, sinto cala-frios. Passam pela minha cabeça as centenas de coisa que poderiam estar escritas ali. Fico paralisado, temeroso. Pensei em tudo o que havíamos feito juntos e em como ela era especial.
Conhecemos-nos jovens, doze ou treze anos atrás, éramos grandes amigos e conversávamos sobre muitas coisas, nos dávamos muito bem. Certa vez fomos acampar com um grupo de amigos, lembro-me como se fosse hoje, havia tomado coragem e lhe daria flores, abriria o coração. Ao anoitecer enquanto todos estavam em frente à fogueira chamei-a e disse tudo o que havia planejado, e ela me beijou, desde então nunca mais nos separamos, uma elo havia se formado, gostávamos das mesmas coisas, éramos uma só mente e espíritos em corpos diferentes e, mesmo assim, nunca caímos na armadilha do cotidiano.
Nas últimas semanas nos afastamos, conversávamos pouco e quase não nos víamos. No dia anterior, depois de uma discussão ela saiu de casa e, logo em seguida, a vi conversando com um estranho, não o conhecia, mas, já o odiava. Será que ela faria isso por uma única discussão? Toda uma vida para em um único dia tudo acabar?
Agora aquela alegria já não existia, uma escuridão, ao que parece provida de vida própria, tomara conta de mim, as paredes pareciam me apertar. O fogo se alastrava e, parado, sentia uma dor mortal, minha mente se separando de meu corpo. Já não existia mais.
Gritos, choro e espanto e no meio de tudo isso um bombeiro acha um pequenino bilhete azul, intacto, que dizia: "Beijo amor fui comprar seu bolo".

Um comentário:

Neal Cassady disse...

Realmente, às vezes, tomamos decisões o nos desesperamos sem ter a totalidade das informações.
Não agir precipitadamente é uma nova política de vida que adotei.
Se, algumas vezes, tivesse parado pra ler o bilhete azul, muitas coisas poderiam não ter acontecido.
Maldita pracipitação!